Retrato de Louise Labé. Água tinta de Guidu Antonietti di Cinarca (a partir de uma gravura de Pierre Woeiriot, 1555, nota minha.)
Ó belos olhos, ó cílios descidos,
ó suspiros, ó lágrimas choradas,
ó negras noites em vão tão esperadas,
ó dias vãos em vão tão repetidos!
Ó tristes prantos, ó tempos perdidos,
ó desejos, ó penas sufocadas,
ó mil mortes em redes enlaçadas,
ó males pra meu mal acontecidos!
Ó riso, ó fronte, ó braços, mãos e dedos!
ó alaúde, ó viola dos enredos:
archotes sois para uma fêmea a arder!
De ti me queixo, que tais fogos tendo,
só a mim afinal deixas ardendo,
sem faúlha nenhuma te atingir!
Há 23 minutos
2 comentários:
Séc. XVI! De uma mulher! A afirmação de "fêmea a arder", e uma tal delicadeza e finura do discurso! Este soneto é uma maravilha, um achado!
É um soneto e tanto, sim, Soledade. Louise Labé, além disso, foi uma precursora na luta pelos direitos da mulher.
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