9.9.08

Esfinges em supermercados


Há uns anos já, "tive" uma Tatiana assim. Era de carne e osso, como Tatiana talvez seja. Chamei-lhe Mari Consuelo. Um dia desapareceu do supermercado de fronteira onde trabalhava. Perguntei por ela e pelo nome. Se casó, se llama Rosa. Moral da lembrança: nunca perguntes nada sobre esfinges, que logo se tornam humanas e vulgares. Dela só me ficaram uns versos indirectos:

Mari Consuelo

Terás de ver um dia Consuelo,
como os seus olhos são lindos
e como riem jovens quando passo.
Nem sequer imaginas os cabelos dela:
são quase iguais aos teus
e os sonhos que é possível ter com eles.
Depois, sabes, está próxima,
vejo-a todas as quartas-feiras
a arrumar as estantes do supermercado.
Se um dia namorarmos,
decerto não será por ser parecida
com aquela que já foste,
e se vier falar-me de alma como tu,
dir-lhe-ei a alma não existe,
é coisa de mulheres românticas,
pois não quero ver a dela
perder-se como a tua que não tive.

© nd

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