13.6.09

Julgo que nasceram no mesmo dia

























Ricardo Reis, pormenor de mural, Almada Negreiros, 1958.

(De) Três Sonetos a Lídia,
em Louvor de Ricardo Reis


1

Nada nos sobrevive se não temos
ainda os olhos puros, e a corrente
não conseguimos ver na transparência
dos dias mais antigos e serenos.

A sombra não a queiras, Lídia, é turva
e, ao escurecer a água, turvas ficam
as águas que eram claras, e do rio
se quedam na memória as águas sujas.

Se sentires a sombra não esqueças
que antes dela brilhou o limpo sul
por detrás das colinas que então vias.

Somente assim a vida nos mereça,
os olhos dedicados a essa luz
que dos choupos a ti sempre volvia.

In Dispersão - Poesia Reunida, 2008, Nuno Dempster
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