17.8.09

Dolce stil nuovo



Dei por findos os poemas sobre Pedro e Inês, cinquenta e oito mais um fora da contagem, fiquei a dois dos sessenta poemas programados. Quatro meses e meio certos, com cerca de mil cento e cinquenta decassílabos, a que eu mesmo chamei do velho, arcaico, «dolce stil nuovo», num desses poemas. Se o ritmo varia do comum verso livre e não pouca gente pensará que a métrica é um anacronismo, embora nos deparemos com exemplos contemporâneos, em Portugal, poucos, e muito mais fora dele, e cá dentro aponto Rui Pires Cabral, no seu Oráculo de Cabeceira, publicado pela Averno, apesar disso, dessa ideia errada (é mais difícil um bom verso dito livre que um bom verso metrificado), a abordagem do assunto e sua linguagem firmá-la-ão neste tempo muito pouco dado a ais e a uis, e às maiores ardências do ah e do oh, que reclamariam o ponto de exclamação no tema que abordei, e não é o ponto que tem culpa - se existe é para se aplicar -, é o sentimentaloidismo e o desbordamento confessional, tão fulanizados que não interessam a ninguém, muito menos à poesia de hoje, antes à coscuvilhice e ao sorriso face a intimidades pessoais, e é isso que muita gente não entendeu, nem Pedro Mexia em cuja explicação nada disse de plausível, nem, depois dele, os que se manifestaram totalmente contra, nem os que a seguir reagiriam a favor do ponto. Enfim, como a poesia tem a importância que tem, mais próxima de nenhuma que de alguma, não contando com o valor para quem a escreve (valor de urgência que sempre variou em grau) e para os trezentos leitores que dizem ter o nosso mercado, convenhamos que cada um faz o que quer sem quaisquer prejuízo ou benefício sociais, e a mim apeteceu-me, nessas circunstâncias desimportantes, pegar em Pedro e Inês e, sem pontos de exclamação pelas razões aduzidas, estourar a dois poemas da meta, digo-o assim porque aproveito a Volta ter acabado ontem.
 
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