29.9.11

Recluso nove anos por falta de método

Francisco de Quevedo, retrato de autor desconhecido, pescado no Google


Apostaram comigo: faz um soneto
e ganharás no céu brilho de vate,
e na terra, diplomas de quilate.
Logo eu disse: aí é que me não meto.

Mas ao ver acabado um só quarteto,
com enorme ambição e disparate,
de rima a metro quis ser alfaiate.
Que aflito estou, transpiro e já derreto.

Nem de oito versos feitos me sossego.
É que ouço gargalhadas. Serão minhas?
Sim, só podem ser. Já se vai o medo.

Salta e rejubila, ó tão inchado ego.
Terminei um soneto sem espinhas.
Ofereçam-me os louros de Quevedo.
 
© nd

Este soneto andou desaparecido talvez uns nove anos nos labirintos minóicos dos meus computadores sucessivos. De vez em quando, lembrava-me dele com pena e dava-o como perdido, embora o fosse procurando. Ontem, de repente e com grande espanto meu, encontrei-o logo na abertura de um ficheiro de Word, quando andava à procura de poemas esquecidos. Foi como se me enchesse o ecrã todo. É uma brincadeira, cuja leitura me diverte, e já vem de Lope de Vega, passando por Gregário de Matos e talvez por outros. Ler aqui e aqui os sonetos desses poetas.
 
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