Ou a porta fechada do 25 de Abril? Isto para dizer que hoje tenho uma visão nada romântica da data. Salvo
erro, no dia seguinte desse ano de 1974, estava eu em Lisboa, na sede da
MDP/CDE, na sala de reuniões gerais, e vi entrarem Álvaro Cunhal e Mário Soares por ela adentro, chegados há
pouco de Paris. Foi a única vez que os vi juntos. Em 1975 dá-se o 25 de
Novembro, sob a batuta (visível) de Ramalho Eanes. Ainda me recordo dos óculos
escuros com que se apresentou ao país, o que terá atemorizado muitos: Pinochet e os seus tenebrosos óculos de sol, com pouco mais de dois anos, estavam frescos na
memória. Faço recordar que, por esta altura, Mário Soares mantinha e
continuaria a manter relações cordiais com Frank Carlucci, nomeado embaixador
dos EUA em Portugal em Dezembro de 1974. Quando este homem de olhos azuis e gelados sai de Portugal, em 1978, é
premiado com a direcção da CIA. Carlucci comandou toda a subversão que iria
desembocar naquela data de Novembro. Serviu-se para tanto desde o MRPP ao ELP
(Exército de Libertação Português, de carácter pró-fascista, que foi muito
activo na região onde vivo. Tinha o seu quartel de operações a uma vintena de
quilómetros desta cidade ), passando, entre outros, pelo PS e pelo seu
secretário-geral. Começa aqui o reinado de Mário Soares, que durará um pouco
mais de vinte anos. É durante a sua vigência que se dá a adesão à então CEE.
Foi sem dúvida um reizinho para certa classe média. Nos últimos anos deste
século, tem-se entretido a criticar a sua própria obra, cuja parteira foi a CIA.
Para mim, o 25 de Abril é tudo isto, para além da alegria e dos sonhos ingénuos de
liberdade e justiça que tive e, sem dúvida, das consequências civis do derrube do Estado Novo, do fim
da guerra em África e da independência das colónias, em que éramos,
portugueses, colonos colonizados.
Há 3 horas