27.2.08

Fernando Pessoa

Quantos papéis voaram da arca
para o céu destes dias, ele morto
e apagados os trilhos de Lisboa.
Não sei se alguém
lhe sente ainda os passos,
dos velhos escritórios
ao delitro e aos poemas
no fim do dia
ou na falta que o vinho lhe fazia.
Um homem de bigode antigo e magro,
com óculos redondos
e elegante de mais na pose,
é útil não somente a Almada.
Suponho que o imagine desse modo
quem o não sinta
uma voz em excesso na cidade,
a multidão que ele nunca foi
e o estilhaçou em vários,
e destes um,
o ortónimo sem vida diferente
do Esteves do poema.
"Os génios não têm biografia",
a não ser umas quantas fotos
que dizem vagamente nada,
já a mão breve
vai dispensando os versos
que eram seus para serem só
de livros em estantes abstractas.


© nd

2 comentários:

Amélia disse...

Sempre gostei deste teu poema...Um beijo

Nuno Dempster disse...

Quando o pus, estava a lembrar-me de si, Amélia.

 
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