7.9.08

O deus SE


Às vezes penso no acaso, melhor dizendo, parte do que penso fundamenta-se no acaso. Como outrora Deus, o acaso é o princípio. Somos quem somos porque, em determinado dia, metemos por uma rua em vez de metermos por outra e existimos porque, há mil anos, um tetravô nosso se cruzou com uma moura que gemeu sob ele, engravidou e pariu o nosso tetravô seguinte, e antes o mesmo com os tetravós deles. Até onde? Nós sabemos, todos sabemos isso: até ao primeiro ovócito humano fecundado, há dois milhões de anos mais umas centenas de milhar. Se então esse ovócito e o espermatozóide que o buscava não se tivessem encontrado, nenhum de nós existiria. O acaso é mais forte que o mais poderoso dos deuses que se tenha imaginado. E muito mais desconfortável. E é deste desconforto que as divindades nasceram, sossegando as perguntas tornadas heréticas e a noção honesta e lúcida do absurdo dos nossos comportamentos e da ignorância do nosso próprio tamanho.

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