12.1.09

Os pés de HH


De repente o monge saiu à rua. Desde que Herberto Helder se isolou, nunca deixei de pensar que o fazia, objectivamente, por excesso de auto-estima, por atitude de pose levada ao extremo, tornando-se, de ricochete, uma forma eficaz de promoção própria. Agora, aos 78 anos, parece colher os frutos da clausura, não sei se por a vida ser curta. Chama-se a isto borrar a pintura ou raspar o palimpsesto patético em que se tornou. Ou ainda acabar mal, se bem tivesse começado. O Prémio Pessoa recusado em 1994 evidencia a contradição em que agora se meteu, com este barulho no mercado livreiro. Depois de A Faca não Corta o Fogo, o Ofício Cantante, um a seguir ao outro. Se houvesse anjos, todos eles teriam pés de barro ― há homens e os seus pés, o que vai dar ao mesmo.

Imagem recolhida aqui.
 
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