27.8.09

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Caro X Y Z

Ao contrário do que pensa — que por si me avalia —, estou-me nas tintas para aquilo a que chama poesia como acto social. Quantos como você se acotovelam no foyer deste teatro de algibeira, não para garantirem um lugar sentado, de onde possam ouvir poesia boa, mas para estarem na boca de cena a dizer da má e, com isso, a arranjar biscates, ou nem tão pouco assim, se conseguirem lugares de direcção ou perto dela, nalguma instituição cultural do Estado. Neste caso, dará para jantares no Terraço do Tivoli, mesmo que não se goste de cozinha de autor, tanto mais que se arranja sempre modo de o Tribunal de Contas aprovar o pagamento público de menus de degustação. É chique, dá currículo e, a dividir por milhões de contribuintes, é irrisoriamente barato. Depois, temos o gosto com que, em geral, esses, de que você é o mais refinado exemplo, escolhem poesia. Porque, tal como elegem a roupa que vestem, escolhem os autores. Fazem fila uns atrás dos outros e têm pavor de dizer em voz alta que aquela poesia não é como a pintam os más-línguas como eu. Como quer que o tome a sério?

Com os meus cumprimentos,


nd
 
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