O jogo eleitoral está viciado porque os princípios são uns e os fins são outros. O arranjo está feito para que mudem as moscas e o mesmo permaneça. Cavaco Silva e Sócrates ganharam as eleições, Cavaco porque teve mais votos, Sócrates porque arrumou Manuel Alegre, tal como fizera a Mário Soares nas eleições anteriores, e os quatro nunca deixaram de concordar com a urdidura do sistema de que Mário Soares foi, em Portugal, o tecelão-chefe.
Periodicamente, nas eleições, vira-se a casaca sem se mudar de cheiro e, como a casaca é só uma, umas vezes fica laranja, outras, cor-de-rosa, casaca pois de direito e avesso. O “povo”, diria que tratado com maior despudor que o da 1.ª República, escolhe, entre o laranja e o rosa, o lado da casaca que o há-de pastorear.
Nos media, tudo parece estar conforme. Essa nova raça, a dos politólogos, escamoteia cuidadosamente a realidade, a grande maioria escrevendo e falando em percentagens, assim ocultando a crueza dos números, que é esta:
Número de eleitores inscritos: 9.629.630
Votos em Cavaco Silva - 2.230.140
Votos em Manuel Alegre (*) - 832.006
Soma dos votos no sistema: 3.062.146
Os restantes votos expressos são votos de protesto: os votos recebidos pelos demais candidatos, os votos em branco e uma parte dos nulos. A abstenção funciona ainda como protesto, e também como demonstração de desinteresse, que não exclui a contestação abúlica, isto sem esquecer, claro, o Simplex dos cartões de cidadão, a que não poucos se agarram, como se isso fosse mudar alguma coisa.
O certo é que os votos nos candidatos do sistema representam 31, 8 %, menos de um terço, dos eleitores inscritos, e Cavaco Silva foi eleito por 23,16 % dos portugueses com direito a voto. Esta é a “democracia adulta e consolidada” de que o candidato presidente falava na sua campanha.
(*) O apoio institucional do Bloco de Esquerda à candidatura de Manuel Alegre deveu-se à busca de visibilidade. Saíram-lhe as contas furadas, e isso já serviu para pagar parte desse só aparente desconcerto.
Periodicamente, nas eleições, vira-se a casaca sem se mudar de cheiro e, como a casaca é só uma, umas vezes fica laranja, outras, cor-de-rosa, casaca pois de direito e avesso. O “povo”, diria que tratado com maior despudor que o da 1.ª República, escolhe, entre o laranja e o rosa, o lado da casaca que o há-de pastorear.
Nos media, tudo parece estar conforme. Essa nova raça, a dos politólogos, escamoteia cuidadosamente a realidade, a grande maioria escrevendo e falando em percentagens, assim ocultando a crueza dos números, que é esta:
Número de eleitores inscritos: 9.629.630
Votos em Cavaco Silva - 2.230.140
Votos em Manuel Alegre (*) - 832.006
Soma dos votos no sistema: 3.062.146
Os restantes votos expressos são votos de protesto: os votos recebidos pelos demais candidatos, os votos em branco e uma parte dos nulos. A abstenção funciona ainda como protesto, e também como demonstração de desinteresse, que não exclui a contestação abúlica, isto sem esquecer, claro, o Simplex dos cartões de cidadão, a que não poucos se agarram, como se isso fosse mudar alguma coisa.
O certo é que os votos nos candidatos do sistema representam 31, 8 %, menos de um terço, dos eleitores inscritos, e Cavaco Silva foi eleito por 23,16 % dos portugueses com direito a voto. Esta é a “democracia adulta e consolidada” de que o candidato presidente falava na sua campanha.
(*) O apoio institucional do Bloco de Esquerda à candidatura de Manuel Alegre deveu-se à busca de visibilidade. Saíram-lhe as contas furadas, e isso já serviu para pagar parte desse só aparente desconcerto.