"E o mar e o céu azul,
Onde os anjos da velha Lusitânia
Voam como através da nossa fantasia."
Teixeira de Pascoaes
Sobre os cumes nevados do Marão
o azul esvaziou-se, cor
onde os anjos da velha Lusitânia
eram um divagar de Pascoaes
doente de saudade.
Se nem a Lusitânia existe
e não se têm visto anjos no céu,
que sobra das ideias do poeta?
Por certo o desconforto de saber
que estava errado e a pena
de o país ir chegando
imagina-se que ao final
sem haver fé nenhuma.
Em cinquenta e dois, já aeronaves
sulcavam o universo azul cyan
sem mais significado que o da Física,
e por isso, por causa dessa cor,
a Amarante de minha mãe
não pôde resistir, e os anjos
da velha Lusitânia
perderam a batalha, expulsos
do céu por esquadrilhas
que atulharam o cosmos de satélites.
Nuno Dempster, in Revista de Poesia Saudade, n.º 11, Junho de 2009, p. 51.