"(...)aquele Dolce Stil Nuovo associado à história de amor entre D. Pedro e D. Inês de Castro remete directamente para uma reconstrução do mito. Não é correcto falar-se em actualização, sendo preferível, talvez, aceitarmos as palavras do poeta e falarmos em transporte: «Transportemos do século XIV / a lenda de Pedro e Inês, para a filmarmos / na paisagem urbana deste século» (p. 35). Neste sentido, o poeta serve-se de um mito amoroso para desmistificar o sentimentalismo que contaminou, e persiste em contaminar, a lírica portuguesa. A preocupação, neste e noutros livros do mesmo autor, é a verdade, mas não a verdade num sentido absoluto, até porque essa não está às mãos de ninguém. O trabalho do poeta, aqui, é imaginar um mito passado num tempo presente, retratando assim o seu tempo e reflectindo a natureza da História: «A História só escreve equações, / da vida interior nada se lê» (p. 10)(...)"
Penso que é tão grato escrever poesia como saber que entendem o que quisemos escrever. E Henrique Fialho, no transcrito acima, revela, com lucidez, a intenção central do livro em imagem. É quanto se pode desejar da poesia, além de a dar a ler ou escutar e de que gostem dela. Tudo o mais lhe é exterior, lhe é estranho.