5.7.12

Exercício sobre um poema traduzido de «Plato Chico», de Hugo Milhanas Machado


À semelhança do que me disseram ser uma atitude (poética) de Hugo Milhanas Machado já do tempo da faculdade, Plato Chico é uma plaquete de folhas soltas,  desta vez bilingue, com cinco poemas do autor, mudados para castelhano por Rebeca Hernández. 

Particularmente nesta apresentação ― seis folhas A4 dobradas ao meio ― há uma lógica saudável, que  é a de poemas poderem ser lidos sem ter de se ir comprar o livro. É para que serve a poesia, para ser lida e ouvida (dita, encenada, cantada, etc.). Cumpre assim o seu destino. O mais nela é folclore. Costumo dizer que é menos difícil ser-se empresário do que poeta sofrível. E se este almejar com a sua poesia prebendas e luzes da ribalta, antes tivesse escolhido ser dos tais empreendedores de sucesso, não lhe faltariam ribaltas, voltas ao mundo, férias sem confusão, hetero ou homo musas ou musos, bons hotéis, melhores restaurantes, vinhos de topo,  hedonismos de desmaiar. Tudo isto para manifestar a minha opinião de que à poesia basta ser partilhada, porque é assim que se realiza. É o que faz HMM com este tipo de publicações, como fazem hoje outros poetas, e como se fazia no século passado e nos séculos para trás, com os meios que havia.

Cinco, dez folhas não substituem um livro. O livro é um marco miliar numa obra, destinado a guiar quem porventura viaje por ela com demora analítica. Os poemas em pequenas compilações, artesanais ou de tipografia, tendem a reunir-se posteriormente em volume. A diferença poderá surgir, como disse, em dar-se a poesia a ler, sem mais. Um pouco como a poesia nos blogues, mas com a vantagem de se escolher o leitor  e, para alguns, sem o risco de ser-se considerado blogueiro versejante pela intelligentsia, que é o que sucede quando tida como tal.

Mas queria escrever sobre o poema abaixo, em castelhano, como parece outro, nem pior nem melhor, mas outro, dizendo o mesmo com outra música e até com outro ritmo, aqui tanto quanto a semelhança das duas línguas o  permite. Não deixa de ser curiosa esta comparação ao contrário, exercício mais ou menos comum, mas interessante para quem gosta destas coisas.

Otra piedra parecida

Podía permanecer pero ya va rasando
y se enfría bronze el mecanismo
la carne se sosiega y la tocamos
avanzamos por esa noche de confianza
donde respiramos mejor

Ninguna voz se parte al hablar
remueves mi café pero es poco

Mira bien mira el tiempo
qué estupendo este calor
un día todo esto será llano
y aquí nuestros sitios
encuentros y ttierra implicada
que al llegar diremos
yo  vine contigo a deshacer espacios

Sabe bien la voz rota y poder prometer
cuando somos capaces de prometer

Iremos viendo desde los caminos
el paso es lento aguanta
puede hasta ser esta la época

In Plato Chico,  p. 5, Hugo Milhanas Machado, ed. autor, Valência, Maio de 2012.   

Abaixo, em Ler mais, o poema em português.

Outra pedra Parecida


Podia ficar mas já vai rasando
e arrefece bronze o mecanismo
a carne sossega e tocamos
avançamos nessa noite de confiança
onde respiramos melhor

Nenhuma voz se parte a falar
mexes o meu café mas é pouco

Olha bem olha o tempo
como é estupenda esta cor
um dia tudo isto será chão
e aqui os nossos lugares
encontros e terra implicada
que ao chegar diremos
eu vim contigo desfazer espaços

Sabe bem a voz estragada e poder prometer
quando estamos capazes de prometer

Vamos vendo dos caminhos
o passo é lento aguenta
pode até ser esta a época

Hugo Milhanas Machado

 
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