Sou pouco de dias comemorativos. Sei porém da importância
de muitos deles, como marco para a consciencialização cidadã. Muitas dessas
datas passam despercebidas e seria bom que, em todos esses dias, cronistas e jornalistas os dessem a conhecer ou a lembrar nos média. Seria bom, mas não pode ser. Não é para a lucidez que nos levam. Quem se lembrou ou sabe que ontem foi o Dia da Agricultura e que amanhã é o Dia Mundial da Água? Em contrapartida, a data de 21 de Março é
recordada por milhões de seres humanos como o dia oficial do início da Primavera
no Hemisfério Norte, não apenas, mas também porque se trata de um data cheia de
garantias de vida e de promessas que se cumprem, prenúncio ou já tempo de
luminosidade e de seres que ressurgem para cumprir a sua perpetuidade, digamos
assim. Não se trata de um data comemorativa. Essa não no-la podem levar. Comemorativo, para poetas, editores
e leitores, e não para todos, é hoje o Dia Mundial da Poesia. Na verdade,
dias de poesia sucedem quando se lêem ou se escrevem poemas que, respectivamente, nos
surpreendam ou alegrem. Para quem não saiba, hoje também é o Dia Mundial da
Floresta e o Dia Mundial para a Eliminação da Discriminação Racial, comemorações
que dão muito que pensar e que são dois altos parceiros para o Dia Mundial da
Poesia. Deixo aqui um poema traduzido para o Mudanças & Cia, em homenagem a um
dos meus poetas do séc. XX, que penso estar
tão fora dos mentideros quanto grande é
a sua poesia.
Planície
Lago.
O lago.
Inundadas
as margens.
Sob a nuvem
o guindaste. Branca, ilumina
os povos de pastores
há milénios. Com o vento
O lago.
Inundadas
as margens.
Sob a nuvem
o guindaste. Branca, ilumina
os povos de pastores
há milénios. Com o vento
vim monte
acima
e aqui viverei. Era caçador
mas a erva
aprisionou-me.
e aqui viverei. Era caçador
mas a erva
aprisionou-me.
Ensina-me a
falar, erva,
ensina-me a estar morto e a escutar
por muito tempo, e a falar, pedra,
ensina-me a ficar aqui, água,
e depois, vento, não perguntes por mim.
ensina-me a estar morto e a escutar
por muito tempo, e a falar, pedra,
ensina-me a ficar aqui, água,
e depois, vento, não perguntes por mim.
Johannes
Bobroswski, ex-RDA
(1917-1965), tradução de Nuno Dempster.