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Neste sentido, escrever não traduz propriamente uma opção, mas um imperativo cívico e civilizacional.", H. G. Cancela no seu
Contra Mundum, a propósito do livro em imagem.
"(...)
O bosque de pinheiros mansos
tranquiliza-me em tardes quentes,
quando as monótonas cigarras
são a luz do sol que fere
e a sombra é um odor a bálsamo.
Aí me refugio, recupero o silêncio
e imagino que bebo
água da fonte,as mãos em concha.
Inicia-se assim o longo poema que estende pelas quase cinquenta páginas deste livro, de assinalável lucidez de escrita. Não há no entanto qualquer promessa de paz. Este texto é, antes, um lugar de confrontos: entre o rural e o urbano, entre o interior (subjectivo e geográfico) e o exterior (objectivo e simbólico), entre a história (que por natureza nunca cumpre as suas promessas) e o presente (que por circunstância nunca coincide consigo mesmo). Ou nem sequer confronto, apenas trânsito: de um mundo arcaico e arcádico que deu lugar aos subúrbios, de um mundo de proximidade e confiança que deu lugar a uma distância que não é lonjura nem extensão, apenas separação. (...)"