14.10.09

Home, de Ursula Meier, 2008



Filme visto ontem, no cineclube do burgo, que um dia ajudei a ressurgir, como membro da direcção. Passou por cá com o título parvo Lar, Doce Lar. Uma história ingénua e idealista, de denúncia sem saída, em defesa do meio ambiente, com uma militância demasiado visível e, além disso, a tocar por vezes o melodrama e outros exageros. Com o pressuposto de denúncia, ou é uma obra forte, concisa e seca, ou desbordante, mas forte, ou arrefece, quando não soçobra. Isto, a meu ver é válido para as artes em geral, embora não tanto para as artes plásticas, ainda que haja obras inolvidáveis de denúncia e génio, refiro-me à pintura.

O filme trata da história de uma família que tem a sua casa num descampado pouco bucólico (valha-nos isso), junto de uma auto-estrada abandonada que era, naquele troço, como que uma extensão da propriedade. A auto-estrada, com a posterior reactivação, tornou-se um símbolo, mas também a bandeira de uma luta sem solução. Quantas vezes travei, na estrada, à noite, para evitar a morte de coelhos, raposas, doninhas e mesmo javalis. É o máximo que podemos fazer, ou então todos mandarmos os carros às urtigas e passarmos de novo a conduzir cavalgaduras.

Apesar do que digo, ou por isso mesmo, um dia fizeram-me ver que as estradas dividem o território dos animais e os expulsam, sob pena de morte, e isso interiorizou-se em mim como uma aberração sem remédio. Assim aquela família, acossada pelos carros na auto-estrada reaberta, que lhe entravam, dia e noite, pela casa dentro, e que acabariam por a expulsar.

Saímos, eu e o amigo com quem fui, para a noite quente. Eu estava a meio-gás, morno. Ficou-me a verosimilhança daquela família, enquanto apenas agregado, e o desempenho de Olivier Gourmet, no papel de marido e pai, e do filho no filme, um miúdo talvez de oito ou nove anos, cujo nome não recordo, e ainda a qualidade da fotografia e aquela cor ambiente indefinível de cinema europeu, bem conseguida.

 
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