17.10.09

Um poeta e um só livro

Ainda não me chegou o último livro de Hugo Milhanas Machado, Entre o Malandro e o Trágico, que encomendei. Demoras que sucedem a quem vive mais perto da Cervantes do que da Poesia Incompleta ou da Trama. Dirão, por isso, que não posso falar do livro, como não posso, de facto. Mas posso abordar o que conheço da poesia de HMM.

Fortinbrás faz uma leitura pela rama do poeta e, por essa razão, não a faz exactamente naquilo que é diferente de poetas ditos novos e novíssimos que tenho lido. Diz que é humor o que é uma lucidez clara (clara como antónimo de pesada) e a recusa do tom puído da lamentação e do eu amachucadamente cliché. E mais, não toca, nem valoriza, em termos de marca de whisky, algo que é bastante saboroso na sua poesia e que me dirão ter sido já feito por certo modernismo, nomeadamente o concreto e sua deriva lusitana. É um gosto e um gozo seus, e também meus como leitor, a subversão sintáctica da Língua. Consegue ultrapassar a estafada desconstrução pela desconstrução, usando-a para construir a sua linguagem poética em termos consequentes, inteligíveis e honestos. Uma lufada de ar fresco nunca foi uma corrente de ar. Lá irei ao livro depois de me chegar, dando a mão à palmatória se estas características não estiverem em Entre o Malandro e o Trágico. Posso estar errado e não tenho a verdade de nada, a não ser que o sol se porá daqui a umas horas e outras coisas no género, pela simples razão de que a verdade absoluta não existe e não porque seja moda e bonito não se terem verdades.
 
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