29.1.11

Afonso Duarte



CAMPO
A Alberto Martins de Carvalho

Este verde impossível de se ver,
Que alegre o camponês cultiva o prazo,
Não dá sequer para me aborrecer
Na extensão sem fim do campo raso.

Sem fim, a vida, deixa se correr
Lisa e fatal, serena, sem acaso.
E acontece o que tem de acontecer
Como quem já da vida não faz caso.

Nada se passa aqui de extraordinário:
Tudo assim, como peixe no aquário,
Sem relevo, sem isto, sem aquilo;

Muito bucólico a favor da besta,
O campo, sim, é esta coisa fresca...
Coaxar de rãs, a música do estilo.



Afonso Duarte, in Obras Completas, 1 - Obra Poética, Plátano Editora, 1974, p. 147.
Imagem: Ereira, Montemor-o-Velho, terra natal do poeta. Fotografia de autor desconhecido.
 
Free counter and web stats