30.4.11

Da autopromoção


Nicolas Poussin, Parnaso, óleo sobre tela, 1630.

Nenhuma ambição de se fazer fotografar ao lado de Camões ou de Eliot por parte de poeta hoje vivo ― acontecimento da esfera do fantástico para ser exibido urbi et orbi ―, nenhum saltitar de festival em festival e de mesa em mesa, nenhum extenso linguado de bibliografia, nenhuma correria atrás da visibilidade suprem a falta de qualidade de dada poesia. A posição inversa é igualmente verdadeira, a discrição e o apagamento pessoais nada lhe acrescentam. A primeira atitude, porém, faz-me lembrar piruetas num circo. Tudo porque me apetece dizer que, neste caso, se atinge o topo ridículo da autopromoção, quando o autor faz publicar críticas à sua própria obra (as favoráveis) no fim de uma antologia de poemas escolhidos e, ainda por cima, enche a boca, escrevendo que essa antologia determina a fixação da obra, como se tal fixação tivesse a importância que imagina ou secreta e enviesadamente deseja.


 
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