A covid 19, como todas as
pestes, é uma guerra com um só lado e muitas frentes, e essas frentes não estão
unidas, as intenções, maioritárias ou não, estão longe umas das outras, e o
carácter das pessoas e a falta dele fazem-me lembrar a invasão de França pela Wehrmacht
em 1940,
os franceses que a admitiram e a Resistência que a combateu. Talvez por isso me
tenha ficado a ideia de que os generais gauleses eram fracos e não apenas o
armamento obsoleto de que dispunham. Assim hoje nesta guerra, com a agravante
de, nos estados-maiores, se lutar com o olho em sondagens eleitorais e na
economia unilateral, cuja defesa os exércitos pagarão integralmente com vidas e
pobreza, mas não os seus generais, semelhantes aos da França invadida, e muito
menos os reis do mundo, cuja fortuna de zeros incontáveis à direita tem
crescido e crescerá, sem escândalo, sobre as vítimas da peste. Dizem nas
chancelarias que pouco se sabe do vírus e, com o respaldo objectivo dessa
ideia, enfrentam-no com inépcia e lentidão, como na invasão da França de 1940,
sabendo o que já se conhece da peste e aproveitando tardia e parcialmente a
experiência de quem a combate com resultados, sem ir aí buscar práticas e a tão
importante rapidez de decisão. Entretanto, seja-se optimista, não se pense sequer
no futuro imediato, a lei das probabilidades joga a favor da sorte de cada um
(primeiro morrerá o vizinho), e, felizmente para o seu sossego, a maioria desconhece
que a estratégia da infecção é multiplicar-se exponencialmente, segundo o
aumento dos infectados e, em consequência, do território ocupado. Os reis, nos
seus cálculos, desde já contam com isso e com a esperança que é para todos nós a
vacina e sabem que os despojos de guerra engordam a tesouraria com a demora da
libertação e com a falta de disciplina sanitária. Que o digam Trump e a revista
Forbes. Mas isso já não tem a ver com governos e eleições, e fazer parte do
circo vale bem a carreira.
Há 4 horas